quarta-feira, 31 de março de 2010

Fim de festival

O festival na verdade me foi frustrante, então não deu vontade de comentar. Faço minha breve crítica:

A primeira peça que vi foi Till, a saga de um herói torto. Uma peça da mostra, mas que estava aberta a todos lá no Barigui. A proposta da peça é a recriação de um ambiente medieval e isso eles fazem mesmo. – Não, não há orcs, lutas de espadas, nem nada disso –. A cultura de palco daquele tempo era baseada na comédia (não se deixe enganar pela televisão com seus guerreiros descamisados e fortes, lindos, inteligentíssimos e loiros), quem mandavam eram os bufões, umas caricaturas bem grotescas fazendo bizarrices para o público rir. Não vou negar que seja divertida, ou que cumpriram aquilo ao que se propuseram, mas não é uma peça muito inteligente (tem piada de peido).

A segunda Quando os demônios dizem amém. Um monólogo com alguns clichês, que tenta criar uma atmosfera meio sombria, meio superdramática. Não consegue. As crianças parecem ter gostado, um adulto crítico, eu duvido, e os pais, não sei... Muito palavrão e insinuação pornográfica, totalmente malempregados. Eles não conseguiram deixar a peça pesada (imagética e atmosfericamente, como sinônimo de densa) a ponto de ser relevante, mas é pesada (lenta, obesa) no sentido de que contraria as propostas de agilidade e leveza.

A terceira A vida como ela é. Nelson Rodrigues tem um texto muito interessante. Mas como no teatro o texto não é tudo, ficam os parabéns pra equipe que encenou. Aliás, a peça é um grupo de teatro tentando montar uma apresentação do Nelson Rodrigues, cheia de tragédias e sensualidade, como o autor gostava. A melhor peça que eu vi no Festival desse ano.

ANGST foi uma decepção, barata pelo menos. Sem texto, um rapazinho magrinho se contorcendo numa sala sem cenário e regurgitando leite. A ideia era uma peça experimental, um ator tentando passar expressar angústia corporalmente. Não senti clima ou nada que ele intentasse. Apenas a sala que estava quente e era desconfortável.

As três irmãs de carne também não recomendaria. As tais irmãs não tem uma história própria, só um prefaciozinho, de onde elas saem para contar uma historinha. Ficou um espetáculo de uma história e meia, o que deixou duvidoso o resultado. Se se vai trabalhar mais de uma história, que se organize como um conjunto de histórias. 1,5 não é número de se sair apresentando.

De como fiquei bruta flor achei desempolgante. Algumas moças adoraram. Fico com a impressão de que a peça é realmente feminina em excesso. Do tipo “de mulheres para mulheres”. São duas atrizes, não personagens. Elas vivem a situação de um fim de relacionamento, com um pouco de “humor-pra-não-chorar”, e vão atravessando e superando alguns estágios.

(você) foi apenas uma leitura, não foi encenada. Promete muito. Um texto bem crítico, uma situação entre o absurdo e a crônica. É um sujeito em frente à TV, e ele não sai de lá por nada. Sua vida dá-se ao redor disso, seus relacionamentos, ou a falta deles, suas preocupações, enfim, tudo que importa e não importa está relacionado à TV. Então ele e as vozes de sua cabeça tentam entender isso.

Antes do fim, outra leitura, consegue criar um clima realmente tenso, ou seja, ótimo para quem adorou ler Angústia e coisas semelhantes. Eles encenarão, no final do ano, no Novelas Curitibanas. Se você gosta de coisas bonitinhas, desaconselho, tinha gente chorando e outras pessoas saíram deprimidas. Se, no entanto, você concorda que a arte não foi feita pra ser só Yeah yeah yeah, mesmo sem se preocupar com os problemas internos de uma grande família, vale a pena ir observar a construção da atmosfera que teve tanto efeito.

MacBeth foi boa com ressalvas. Não gostei do figurino. Usar ternos e lutar com espadas fica esquisito. Também o cenário me pareceu bem pobre. Umas mesas, nas quais os atores subiam o tempo inteiro. Os atores encheram o teatro de fãs, fãs que não suportavam mais ficar tanto tempo lá. Poderia ter sido bem melhor.

O Festiva em si é que mais desiludiu. Lugares muito ruins para peças e péssimo o guia. As resenhas não dizem o que realmente é necessário, o mapa parece um antimapa, servindo só pra você se perder, cheio de coisas que não existem e sem tantas que existem. E o público horrível que não sabe se comportar num teatro.

A existência de uma minipiada faz as pessoas darem altas gargalhadas pra provar que entenderam. Mas é pior quando não são piadas. As palavras relacionadas a sexo provocam nos colegiais imensa necessidade de rir. E isso é um fato curioso do liberalismo sexual: mesmo que eles transem desde os 12, ou 13, ainda não sabem se comportar diante do tema sexualidade. Mas toleremos, como diria aquele outro cabeludo, eles não sabem o que fazem. O pior é a elite da cidade, frequentando o Guaira, com o celular ligado, fazendo piada no meio da peça e sem calar a boca um segundo, dizendo que a peça é longa e chata.

Nem posso dizer: vão assistir um filme americano. Se só fosse ao teatro o público certo, todos faliriam ou teriam que viver com subsídio do governo (acho que já vi isso em algum lugar...).

sexta-feira, 19 de março de 2010

Festival de Curitiba

Esse é o mês do Festival de Curitiba, se você estiver por aqui, tente ver alguma coisa.

A Mostra (normalmente, as peças mais caras e famosas, nos lugares maiores, selecionados por uma equipe do festival) está interessante, mas só vou ver mesmo Macbeth; gosto de Shakespeare no Teatro Guaíra.

O Fringe (uma mostra aberta) não fica atrás e é onde eu pretendo gastar mais (embora não tanto quanto gostaria), além de ver algumas peças gratuitas.

Há algumas peças que já vi e recomendo, principalmente as do Novelas Curitibanas do ano passado, Kafka – Escrever é um sonho mais profundo do que a morte; Manson Superstar; O inventário de Nada Benjamim. Fora essas, o Werther eu também gostei.

Werther é realmente baseado na obra de Goethe, não tenho muito o que falar além de que ficou interessante (só lembre que a peça é uma leitura e nunca vai ser como o romance).

E as do Novelas:

Manson Superstar conta a história de Charles Manson, que liderou uns assassinatos nos EUA. É interessante, uma peça em inglês, com legendas, com cenas de violência e nudez.

Kafka mistura autor e obras, conta-se de uma noite em que Frans é ainda criança e tem que sobreviver à tirania do pai e ao facílimo início de século de XX para uma família judaica.

O inventário de Nada Benjamim eu já comentei aqui (olha lá no arquivo). Peça do grupo Obragem, que trabalha corpo e palavra para chegar a um resultado bem interessante.

É provavelmente sua última chance de ver essas peças, então aproveite. O mais que eu for vendo comento aqui. Até...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Tentando voltar a escrever

Perder o ritmo é complicado. Até tive várias ideias pro blog nessas férias, mas qualquer dificuldadezinha me desanimava. É complicado não ter estímulos, não ter resultados. Viver movido a sonhos requer uma alma maior que a minha.

Também me pergunto constantemente o que devo e o que não devo postar aqui. O blog não é estritamente literário, ou seja, não é só de textos artísticos. O blog é pessoal, voltado para minha literatura. Então deveria entrar um texto de vez em quando e frequentemente minhas referências artísticas (filmes, livros, músicas).

A teoria literária contemporânea não liga mais pra vida do autor (embora essa tradição resista ainda). Mas seja como teórico (sim, diferente dos acadêmicos normais, eu gosto de inventar minhas teorias, não apenas copiar), seja como autor, acredito que certos fatos são importantes, só ainda não defini quais são esses fatos, qual sua natureza.

Um deles é seu relacionamento com seres humanos. O Byron era um pervertido e isso explica Dom Juan, não é disso que estou falando. Nessas férias não aconteceu muita coisa, claro que houve novas experiências, mas não interessam aqui. O caso é que o Japa fez a melhor leitura da minha obra que alguém já fez, ou, pelo menos, o melhor comentário. Não lembro as palavras exatas dele, mas em resumo disse que sou perturbado e que minha literatura é atravessada de pessimismo e crueldade, não tendo nenhum final feliz, mas sim incontáveis inconclusões. Ele chegou mesmo a apontar questionamentos filosóficos que eu fiz, foi uma conversa muito boa. Ele é um grande leitor, já lia montes de livros quando eu estava só no gibi e fez mesmo uma leitura única.

A questão da pluralidade de leituras é legal, mas é complexa demais. Se você entende, não preciso explicar. Se você não entende, não adianta eu explicar aqui. Se você poderia entender, seria necessário um artigo enorme, fique só com o conceito: a interpretação é produzida pela reunião de vários fatores: o contexto, os conhecimentos de mundo, até seu estado físico e emocional, entre outras coisas. Sendo assim, toda leitura é única. Quando especifiquei enfocando anteriormente, estava partindo da premissa de que algumas leituras convergem, por exemplo, por grupos, enquanto algumas são realmente mais raras. Meus colegas podem fazer suas leituras parecidas, mas um sujeito que foi meu melhor amigo tem seu diferencial.

Talvez um dia eu escreva artigos pra colocar aqui. Tenho ideias. Muitas ideias. Mas minha alma é tão pequena...

Tudo isso não é sem propósito. Não se discursa sem intenção, não se faz nada sem intenção. Uma introdução espalhafatosa e melodramática pra dizer que preciso de um leitor. Todo escritor precisa de um leitor.

Não na questão funcional e comercial: autor/produtor – livro – leitor/consumidor. O escritor precisa de um leitor de originais. De alguém que dê retorno. Alguém que quando você morrer deprimido pedindo que tudo que escreveu seja queimado, se negue e ainda faça uma publicação póstuma. Claro que nem todo mundo merece isto, mas a questão do retorno é necessária. Há pessoas que gostam de ler minhas coisas (se não são sinceros, merecem mesmo ter o saco enchido), mas mesmo eles correspondem às minhas expectativas de retorno. Não pense que é questão de elogios, mas de críticas também, de opiniões embasadas.

Há, não nego, indivíduos que saem atirando poemas pela rua, pregando em postes, quadros de avisos e se contentam em serem lidos. Eu não faço questão de ser lido, tenho ciúmes de tudo que faço e abro em raras ocasiões, quero mais é um comentário, uma indicação de que estou indo pelo caminho certo ou o contrário.

Ou isso é só frescura momentânea porque me sinto só.