terça-feira, 2 de novembro de 2010

Notas

Agora estou ouvindo uma música do Terminal Guadalupe, uma nova chamada Força, em que a voz diz que ganha o mundo como trovador e comenta justamente a falta de energia, o excesso de obstáculos a serem superados com a pouca força e tenta trazer algum ânimo “o que não vem com sangue e suor tira o brilho do que faz sonhar, confie em mim, abra o coração, mas seja forte até o fim e acredite na canção”.

A minha falta de força até para atualizar o blog mostra isso também. Eu tenho o que dizer, o que comentar e sempre me convenço que não vale a pena. Espelho, espelho meu, quem tem a alma menor que a minha? Nem sempre rima...

Há uns oito, ou talvez seis anos, eu tive um blog. Sem nada de muito relevante. O que eu quis fazer com este blog foi exatamente seguir outro caminho, não ficar falando de mim, mas comentar acontecimentos culturais da cidade. O problema é eu não me convencer que isso (minha visão das coisas) tenha também relevância.

Lembro de quando o neto do Thomas Mann (ele é só o neto do Thomas Mann, nem lembro, nem vou procurar o nome dele) veio e comentou um livro autobiográfico, que foi traduzido com o nome de Montanha Russa. A ideia é que fosse uma história de altos e baixos, mas na leitura de trechos selecionados pelo autor eu não notei nada de especial. Talvez o que seja alto ou baixo para nós não signifique muito para outros.

Talvez eu venha a ser o primeiro cineasta da minha cidade. A parte do primeiro é certeza até onde sei, nunca ouvi falar de nenhum outro e só estou esperando para me matricular na FAP. Aguentar mais 4 anos de faculdade é que é duvidoso.

Essa postagem também é para parabenizar a minha colega Mayra por ganhar um concurso de contos, se não me engano o Talentos da Maturidade. Como eu sou o revisor dela e ajudei a escolher o conto vencedor, fico particularmente feliz e orgulhoso.

Mas eu falhei nas duas coisas que mais queria esse ano e talvez por isso continue autor de melodramas.

Talvez alguém considere interessante acompanhar o processo de criação de um poema. Este foi escrito em uma tarde. Antes de tudo me vieram a primeira e a última frase, me senti inclusive o Bento Santiago, mas em menos de uma hora foi surgindo o meio desse poema sem versos que comenta num mesmo parágrafo crepúsculo e T.S. Eliot. Espero que as outras referências você descubra sozinho.

Finados

Feriados cinzas e anjos tristes ou tortos ou mortos me contagiam. Impossível escrever um verso, acabar um poema quando nem se consegue levantar. Sem animu. Zumbis comem e andam, realizam tarefas simples, mas não escrevem um verso. Eu mastigo versos e decomponho poesia alheia no apartamento cinza silencioso vazio quando antes depois ou durante fico cinza silencioso vazio. Certos dias são mais longos mesmo sem um raio de luz e o cinza se recusa a escurecer.

Estamos em tempos difíceis quando sob o sol vampiros se tornam heróis. Aqui não é abril, mas é uma primavera aquosa no hemisfério sul. Finco meu olhar diante dos meus pés. Lembro que não reparei em flores ou folhas novas esse ano.

Mas ainda sinto uma respiração descompassada. Sobrevivo a mim mesmo e anoiteço mais uma vez.

T Irley

Escolhi esse poema para isso porque eu sinto que falta algo nele, além das estatísticas, pois sempre volto a mexer nos textos. Fica agora essa primeira versão. Quando eu alterar, mostro aqui.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

2º CONCURSO DE CONTOS MARINA COLASANTI

Bom, queridos 5 leitores. Continuam abertas as inscrições para o 2º CONCURSO DE CONTOS MARINA COLASANTI. Vai ser minha estréia como crítico literário a atuação na banca desse concurso; então, aos interessados, o que eu defenderei será um texto esteticamente trabalhado e de narrativa relevante. Só disse o óbvio? Sim, mas tem gente que não sabe. Participe.
Abaixo o edital:

Estão abertas, a partir do dia 1 de junho de 2010, as inscrições para o 2º Concurso de Contos Marina Colasanti, uma promoção do Núcleo de Estudos da Leitura, da PUCPR.

Sobre os autores: As inscrições estão abertas ao público em geral.

Sobre os textos: Os textos devem ter, no máximo, 10 páginas, escritos em fonte arial 12, espaço 1,5. Devem ser inéditos. Cada autor poderá inscrever até 2 (dois) contos. Os textos impressos devem vir com pseudônimo. No texto em cd, deve aparecer o pseudônimo e o nome completo.

Sobre o prazo: as inscrições encerram-se dia 30 de agosto de 2010.

Sobre as inscrições: Os textos devem ser enviados ao Núcleo de Estudos da Leitura, no CTCH, na PUCPR, Campus Prado Velho (Rua Imaculada Conceição, 1155, CEP 80.215- 901), em 3 (três) vias: duas impressas e uma em CD, com breve currículo do autor. Solicita-se o envio de um livro de literatura infanto-juvenil, novo, como parte do processo de inscrição. Os livros deverão ser de um do autores a seguir: Marina Colasanti, Bartolomeu Campos Queirós, Stela Maris Rezende, Lygia Bojunga Nunes, Marcos Rey, Lúcia Machado de Almeida, Ricardo Azevedo, Ângela Lago, Roseana Murray, Sérgio Capparelli, Paulo Venturelli, ou uma adaptação, das séries Reencontro ou Visitando os clássicos.

Sobre a premiação e os resultados: Os três primeiros colocados terão suas obras publicadas na página do Núcleo de Estudos da Leitura, receberão um diploma conferindo a premiação e uma obra de Marina Colasanti. Os resultados serão divulgados no site da PUC. A entrega dos prêmios acontecerá num dos auditórios da PUCPR, em data a ser divulgada.

Curitiba, 1 de junho de 2010
Profª Drª Cátia Toledo Mendonça
Coordenadora do Núcleo de Estudos da Leitura.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Resenha - Osculum Obscenum

Só pra atualizar o blog, mesmo com texto antigo. Esta resenha foi escrita para a disciplina de crítica literária da professora Catia Toledo no último semestre, a disciplina que mais me agradou no curso de Letras da PUC-PR e que eu fechei com 10.

O texto era para ser sobre a obra Osculum Obscenum do Sandrini, mas optei por falar do autor em geral, apenas dando mais ênfase à novela. Caso se interesse, Kafka Edições



Mantendo a tradição de inovar

Dentre as coisas das quais Curitiba pode se orgulhar está o fato de ser uma das cidades com maior tradição de experimentação na literatura (o que implica em uma das coisas que mais deve[ria] envergonhá-la, ser uma das cidades que mais obscurece e despreza seus escritores). Paulo Sandrini, escritor, estudioso da literatura e editor radicado em Curitiba, com seu último livro, Osculum Obscenum, continua o seu trabalho de inovação, trazendo sangue novo para essa tradição de nomes tão importantes quanto desconhecidos, como Manuel Carlos Karan e Valêncio Xavier.

A novela de Sandrini publicada pela Kafka Edições surge com toda uma Coleção Antena, com Luci Collin, Karan, Leprevost e Benvenutti, de diferentes gêneros, unidos pelo trabalho diferenciado em torno da linguagem, que em Osculum Obscenum vem corrida, ou talvez se deva dizer despencada.

O texto parece chegar com a mesma pressa do protagonista e narrador não nomeado, que tem de ir receber seu filho na maternidade. “VAGIDO./ Subo apressado a escadaria./ Procuro em todos os cantos do andar superior./ Lhufas.” E corre assim, em um visual quase de poema, quase uma oração por parágrafo, ou mesmo frase, como “Relinchos.”, a exceção dos diálogos que se destacam volumosos nesse texto em que tudo parece invertido.

Essa inversão absurda não se limita ao campo material, a própria história desenrola-se em pura surrealidade, dos fatos narrados aos diálogos ilógicos, de modo que o sonho do personagem e a sua vida distinguem-se praticamente apenas na questão do espaço.

O trabalho com a quebra da realidade racional é recorrente na obra de Sandrini e se percebe nos seus três títulos publicados (incluindo O estranho hábito de dormir em pé e Códice d’incríveis objetos), o que faz com que a crítica muito o compare com Franz Kafka, forte influência de Sandrini, presente na atmosfera de seus textos, na grande recorrência de personagens denominados “Franz”, e no nome da própria editora.

O autor paranaense é hoje mais considerado nos países da America Latina hispanohablantes do que no Brasil, cujos críticos e mercado leitor parecem não aceitar, em se tratando de autores brasileiros, nada fora do secular eixo cronístico. Sandrini recentemente chegou a ser detido pela polícia venezuelana, onde dava oficinas sobre literatura, tematizadas exatamente em violência e opressão.

O viés político de suas obras, os contos ou a novela, mesmo sem citar um ambiente real, ou pessoa que se veja em fotos, e talvez exatamente por isso, por trabalhar essas imagens tão caricaturescas, mostra-se fortemente crítico e pessimista, nessa resistência ao conservadorismo de direita ou esquerda.


sexta-feira, 9 de julho de 2010

O retorno de Macunaíma

Lá vem a encarnação da discórdia avançando um passo e recuando dois para a cama outra vez. Ai que preguiça!...

Faz tempo que não atualizo nada. Um misto de falta de o que dizer, de motivação e até de tempo. A falta de o que dizer é sempre uma questão de critérios, o caso da motivação é crônico e o problema de tempo foi por conta da faculdade.

Agora me formei.

Foi uma correria (por conta da [falta de] motivação, claro). É difícil escrever um TCC quando não se quer levantar da cama. Mas deu certo, tirei dez e até deixo você ler.

Comentário atrasado sobre a copa do mundo:

Maravilha o Brasil ter perdido, juro que não é ironia. Sou muito revoltado com essa coisa de “país do futebol” e torço pra nossa seleção ter uns 30 anos de crise pra ver se viramos o país de qualquer outra coisa (menos do handebol, por favor, que consegue ser ainda mais chato). Não é simplesmente uma atitude infantil como você pode estar pensando. No dia do jogo com o Chile eu tinha coisas para fazer à tarde, mas fecharam tudo no centro que não fosse bar ou lanchonete. É degradante fecharem a cidade. Fecharem a biblioteca pública central de uma metrópole com quase dois milhões de habitantes por causa de um jogo de futebol.

O que a seleção de futebol traz de bom para o país? Aumento na venda de televisões, lucro pra quem trabalhar com turismo organizando as viagens pros locais dos jogos, venda de camisetas e outros assessórios. Mas fora isso? Suponhamos que você não pertence à mínima minoria do país que não trabalha na venda de artigos esportivos, roupas, eletrodomésticos ou turismo (dessa vez há ironia), o que você ganha? Entretenimento?

Futebol é até legal de jogar e tem momentos emocionantes de assistir. Mas nem lembro de já ter existido um jogo com bons 90 minutos. Geralmente são bons os últimos 15, se um dos lados ainda tiver chance. Você não prefere mesmo ver um filme?

Fora que foi ridícula essa coisa do guerreiro. Queria saber qual imagem estão trabalhando nos países mais desenvolvidos, pois me parece algo tão primitivo falar em guerreiros. Guerreiros são sujeitos com fama de assassinos e monstros quando perdem, e de heróis quando vencem (até que tem a ver com a seleção, por esse ângulo). Fico feliz que tenham perdido. Guerreiros 1? Magos 2!

Filosoficamente é tão pobre essa coisa bárbara. Prefiro uma postura mais evoluída, como nas letras do Dary Jr: O mundo é assim/ inevitável competição/ vai daqui até o fim/ consagração não é bater até cair/ mas resistir/ você vai perceber/ se deve ou não fazer/ o segredo está em cada escolha errada/ agora é com você/ não vá se esquecer/ o bravo é quem suporta mais pancada. (Chico Balboa, música do Terminal Guadalupe).

Dia 02/07 fui ver um show do Terminal Guadalupe, foi muito bom, adoro a banda, já falei dela aqui, pena que sejam tão curtos os shows. Eles só vão voltar a tocar na cidade no fim do ano, mais perto, pode deixar, eu aviso.

Bem, por último, vou retomar o meu perfil no recanto das letras, com alguns textos científicos e outros não, quando pronto coloco aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Agenda, Kafka

A peça Kafka - escrever é um sonho mais profundo que a morte está em cartaz agora no teatro José Maria Santos. A história se passa em um dia da infância de Kafka, na verdade, uma noite em que há um assassino solto pela cidade. A peça mistura o momento histórico, o escritor, sua família e suas obras. Vale a pena conferir.

Dias(s): 6,7,8,9,13,14,15,16,20,21,22,23,27,28,29 e 30 de maio.

Horário(s): Das quintas- feiras aos sábados às 20h e domingos às 19h

Auditório: José Maria Santos(José Maria Santos)

Ingressos: R$20,00 (50% de desconto com o Cartão Guaíra)

Postos de Venda: Bilheteria e Disk Ingressos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Agenda, Tangos e Tragédias

Sei que a maioria das minhas resenhas & críticas são inúteis, pois são de coisas que já passaram. O que é um problema, mas não tem solução simples. Os eventos aqui não tem uma temporada longa e não tem ninguém me subsidiando nem mesmo as entradas pra uma crítica ainda em tempo de ajudar o público a se decidir. Desta vez antecipo em mais de uma semana o evento, que é a apresentação do Tangos e Tragédias.

O espetáculo tem dois personagens esquisitos, que cantam, tocam e interagem com o público. As músicas e as cenas são divertidas, trabalhando muito com a questão do humor por repetição. Aliás, repetições bem sucedidas são o forte da dupla, pois, como eles fazem questão de mostrar durante o show com uma enquete com o público, cerca de metade da platéia já viu o espetáculo mais de duas vezes.

Dias 14, 15 e 16 de maio no Teatro Guaíra, 21h, Sexta - R$ 60,00/R$ 50,00 e R$ 40,00; Sábado/Domingo R$ 80,00/R$ 60,00 e R$ 50,00.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Literaturas

Tirando atrasos. Hoje volto a atualizar o blog e decido finalmente ler o Rascunho de abril, com bastante espaço para o debate “alta literatura” X “literatura de gênero”. Isso já dá conflito na definição/separação desses dois grupos.

Uma coisa engraça e preocupante que me vem à mente nesse tema é a recorrente fala do Paulo Coelho, mais ou menos isto: “o contato com o Raul me salvou de um caminho sem volta, de escrever cada vez mais difícil”. Engraçado porque nunca li nada nem um pouco difícil do PC. Mas preocupante porque eu acho que estou me enveredando pela trilha citada.

O experimentalismo tem se incorporado nos meus escritos recentes e, se não é uma produção vasta, é porque escrevo pouco mesmo. Em janeiro eu li o início de um conto (que estava escrevendo) pra um amigo e ele disse que era intelectual demais. Outro dia uma colega disse que fiz um poema que não dá vontade de ler até o fim (só porque envolve mais de 5 línguas?).

Não tenho intenção de ser ilegível, mas também não quero o messias das massas (cacofonia proposital). Aqui entra a dicotomia de Maiakovski e Pound tanto em teoria, quanto em produção literária.

O poeta russo assumidamente bolchevista (em favor das maiorias, do povo) e o poeta americano de extrema direita (atuante a favor do fascismo). O primeiro quer um verso vivo que o povo possa cantar na rua; o segundo diz que enquanto não se faz nada de genial, o que o artista pode fazer é experimentar coisas novas em favor dos que podem usá-lo (no bom sentido) como atalho e fonte.

Se tudo é política, quero me proclamar de centro com tendência direitista. Quero ser a Suíça.

A turma que eu leio e admiro em sua maioria é mesmo do lado canônico. Extremos: Joyce, Dostoievski, Pound, Eliot. Mas também gosto de autores acessíveis e (que deveriam ser) populares, como Drummond, Pessoa, Poe.

Tento escrever de tudo e de todas as formas, não esperando agradar a todos, mas por, confesso, desejo de não ficar preso a nada. Os poemas do blog são absolutamente simplistas (a meu ver, pelo menos), enquanto que a esquete é experimental e de leitura elitista. Não entenda isso na questão do gênero, eu tenho poemas difíceis e, em contrapartida, tenho começada (nunca tenho ânimo e concentração pra terminar) uma farsa (uma comédia fácil de teatro).

Pelo que se fala, poderíamos encontrar na literatura mundial os opostos numa luta como Finnegans Wake contra Crepúsculo. Não li nenhum (espero viver para ler o primeiro). Acho mais importante existir o primeiro, pelo raciocínio: havendo uma linha do meio, há as variações de elaboração para ambos os lados, sendo os leitores de um pós-doutores em literatura e artistas extremamente intelectuais e os de outro gente que assiste novela torcendo pela mocinha; acho mais importante que ampliem os limites do primeiro grupo, expandindo os limites do texto e da língua, do que inventarem algo ainda mais linear e comercial que Crepúsculo. Se o Joyce não tivesse existido, muitos ainda se aventurariam na tentativa de escrever algo como FW (e muitos tentam). Se não existisse Crepúsculo, não faria diferença, porque há milhares iguais.

Por hora ainda dizem que sou acessível a qualquer um (não em tudo, é claro), mas eu terei textos (se viver o bastante) que poucos vão conseguir ler. Mas também estejam avisados se eu escrever roteiros de jogos de computador ou séries de RPG (o que muito pretendo fazer).

Minha postura é difícil, eu sei. Academicamente eu estudo o Santiago Nazarian (escritor pop) usando Bakhtin (estudioso russo) e saio falando que Alencar e Paulo Coelho são a mesma coisa, porteiros.