quinta-feira, 22 de julho de 2010

Resenha - Osculum Obscenum

Só pra atualizar o blog, mesmo com texto antigo. Esta resenha foi escrita para a disciplina de crítica literária da professora Catia Toledo no último semestre, a disciplina que mais me agradou no curso de Letras da PUC-PR e que eu fechei com 10.

O texto era para ser sobre a obra Osculum Obscenum do Sandrini, mas optei por falar do autor em geral, apenas dando mais ênfase à novela. Caso se interesse, Kafka Edições



Mantendo a tradição de inovar

Dentre as coisas das quais Curitiba pode se orgulhar está o fato de ser uma das cidades com maior tradição de experimentação na literatura (o que implica em uma das coisas que mais deve[ria] envergonhá-la, ser uma das cidades que mais obscurece e despreza seus escritores). Paulo Sandrini, escritor, estudioso da literatura e editor radicado em Curitiba, com seu último livro, Osculum Obscenum, continua o seu trabalho de inovação, trazendo sangue novo para essa tradição de nomes tão importantes quanto desconhecidos, como Manuel Carlos Karan e Valêncio Xavier.

A novela de Sandrini publicada pela Kafka Edições surge com toda uma Coleção Antena, com Luci Collin, Karan, Leprevost e Benvenutti, de diferentes gêneros, unidos pelo trabalho diferenciado em torno da linguagem, que em Osculum Obscenum vem corrida, ou talvez se deva dizer despencada.

O texto parece chegar com a mesma pressa do protagonista e narrador não nomeado, que tem de ir receber seu filho na maternidade. “VAGIDO./ Subo apressado a escadaria./ Procuro em todos os cantos do andar superior./ Lhufas.” E corre assim, em um visual quase de poema, quase uma oração por parágrafo, ou mesmo frase, como “Relinchos.”, a exceção dos diálogos que se destacam volumosos nesse texto em que tudo parece invertido.

Essa inversão absurda não se limita ao campo material, a própria história desenrola-se em pura surrealidade, dos fatos narrados aos diálogos ilógicos, de modo que o sonho do personagem e a sua vida distinguem-se praticamente apenas na questão do espaço.

O trabalho com a quebra da realidade racional é recorrente na obra de Sandrini e se percebe nos seus três títulos publicados (incluindo O estranho hábito de dormir em pé e Códice d’incríveis objetos), o que faz com que a crítica muito o compare com Franz Kafka, forte influência de Sandrini, presente na atmosfera de seus textos, na grande recorrência de personagens denominados “Franz”, e no nome da própria editora.

O autor paranaense é hoje mais considerado nos países da America Latina hispanohablantes do que no Brasil, cujos críticos e mercado leitor parecem não aceitar, em se tratando de autores brasileiros, nada fora do secular eixo cronístico. Sandrini recentemente chegou a ser detido pela polícia venezuelana, onde dava oficinas sobre literatura, tematizadas exatamente em violência e opressão.

O viés político de suas obras, os contos ou a novela, mesmo sem citar um ambiente real, ou pessoa que se veja em fotos, e talvez exatamente por isso, por trabalhar essas imagens tão caricaturescas, mostra-se fortemente crítico e pessimista, nessa resistência ao conservadorismo de direita ou esquerda.


sexta-feira, 9 de julho de 2010

O retorno de Macunaíma

Lá vem a encarnação da discórdia avançando um passo e recuando dois para a cama outra vez. Ai que preguiça!...

Faz tempo que não atualizo nada. Um misto de falta de o que dizer, de motivação e até de tempo. A falta de o que dizer é sempre uma questão de critérios, o caso da motivação é crônico e o problema de tempo foi por conta da faculdade.

Agora me formei.

Foi uma correria (por conta da [falta de] motivação, claro). É difícil escrever um TCC quando não se quer levantar da cama. Mas deu certo, tirei dez e até deixo você ler.

Comentário atrasado sobre a copa do mundo:

Maravilha o Brasil ter perdido, juro que não é ironia. Sou muito revoltado com essa coisa de “país do futebol” e torço pra nossa seleção ter uns 30 anos de crise pra ver se viramos o país de qualquer outra coisa (menos do handebol, por favor, que consegue ser ainda mais chato). Não é simplesmente uma atitude infantil como você pode estar pensando. No dia do jogo com o Chile eu tinha coisas para fazer à tarde, mas fecharam tudo no centro que não fosse bar ou lanchonete. É degradante fecharem a cidade. Fecharem a biblioteca pública central de uma metrópole com quase dois milhões de habitantes por causa de um jogo de futebol.

O que a seleção de futebol traz de bom para o país? Aumento na venda de televisões, lucro pra quem trabalhar com turismo organizando as viagens pros locais dos jogos, venda de camisetas e outros assessórios. Mas fora isso? Suponhamos que você não pertence à mínima minoria do país que não trabalha na venda de artigos esportivos, roupas, eletrodomésticos ou turismo (dessa vez há ironia), o que você ganha? Entretenimento?

Futebol é até legal de jogar e tem momentos emocionantes de assistir. Mas nem lembro de já ter existido um jogo com bons 90 minutos. Geralmente são bons os últimos 15, se um dos lados ainda tiver chance. Você não prefere mesmo ver um filme?

Fora que foi ridícula essa coisa do guerreiro. Queria saber qual imagem estão trabalhando nos países mais desenvolvidos, pois me parece algo tão primitivo falar em guerreiros. Guerreiros são sujeitos com fama de assassinos e monstros quando perdem, e de heróis quando vencem (até que tem a ver com a seleção, por esse ângulo). Fico feliz que tenham perdido. Guerreiros 1? Magos 2!

Filosoficamente é tão pobre essa coisa bárbara. Prefiro uma postura mais evoluída, como nas letras do Dary Jr: O mundo é assim/ inevitável competição/ vai daqui até o fim/ consagração não é bater até cair/ mas resistir/ você vai perceber/ se deve ou não fazer/ o segredo está em cada escolha errada/ agora é com você/ não vá se esquecer/ o bravo é quem suporta mais pancada. (Chico Balboa, música do Terminal Guadalupe).

Dia 02/07 fui ver um show do Terminal Guadalupe, foi muito bom, adoro a banda, já falei dela aqui, pena que sejam tão curtos os shows. Eles só vão voltar a tocar na cidade no fim do ano, mais perto, pode deixar, eu aviso.

Bem, por último, vou retomar o meu perfil no recanto das letras, com alguns textos científicos e outros não, quando pronto coloco aqui.