terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poucas Palavras

Tenho milhares de ideias pra atualizar o blog, não tenho muita energia, determinação, incentivo. Talvez seja mesmo incentivo, de modo que o blog não é atualizado porque você não me motiva. Tá vendo? A culpa é sua.

Estou participando de uma oficina de minicontos na biblioteca pública (agora você entende o título, haha). Ela é ministrada pelo José Marins. Nesse link tem uns haicais originais (no sentido de fieis à forma primeira, sem título, na métrica e com a referencia à natureza), que não foram levados pra oficina, mas que servem pra ilustrar um pouco o trabalho dele. Eu gostei, e ele é bom de improviso.

Foi bom rever colegas da família Sandrini. Tenho o link da Vanderleia, que continua fazendo poemas interessantes, outro dia falo dela e indico algum texto de preferência minha. Também lá o Nery, que qualquer dia deve publicar algo, também o Rodrigo Araújo, que participa de uma coletânea de contos (que ainda não tenho, quando ler, comento). A Mayra não estava lá, mas ela ganhou um prêmio de publicação e quero deixar meus parabéns para ela. E por falar no pessoal, o Sandrini vai dar duas oficinas (que participarei se os horários permitirem), que infelizmente ainda não tem data.

Eu gosto de oficinas literárias. Claro, elas não são para aprender a escrever. Oficina é pra aperfeiçoar, discutir, trocar. E como a literatura anda tão fora de moda, qualquer espaço pra discussão, pra dialogar é importante. Principalmente para escritores. Que outro tipo de gente lê aqueles livros difíceis esteticamente trabalhados? É nosso espaço. É necessário.

Eu daria oficinas. Eu darei oficinas quando tiver currículo bastante para me chamarem. Seja pra iniciantes, seja pra escritores vagabundos alcoólatras que tem as tardes livres, pois eles também são gente. Antes de esquecer, a oficina acontece na Biblioteca Pública, das 14h às 17h e vai até o dia 29, aparece lá.

Para concluir talvez eu devesse pôr um microconto meu, mas melhor deixá-los inéditos um tempo, vai que faço um livro? Aproveito que concordo com o Marins que o primeiro e melhor livro de microncotos do país é Contos de amor rasgados, da Marina Colasanti, e termino com o conto que mais gosto do livro. Boa leitura.

Para sentir seu leve peso – Marina Colasanti

Guardava o rouxinol numa caixinha. Tudo o queria era andar com o rouxinol empoleirado no dedo. Mas se abrisse a caixinha, ah! certamente fugiria.

Então amorosamente cortou o dedo. E, através de uma mínima fresta, o enfiou na caixinha.

sábado, 17 de outubro de 2009

Metáfora RPG

Mestre
Agora que temos novos monstros, permito que façam guerreiros poderosos. E, como vocês são muito individualistas, nem adianta fazer um grupo variado pra um ajudar o outro, pois ninguém vai ajudar ninguém que eu sei. Então pensem bem seus pontos fortes e fracos pra não morrerem em dez minutos.

Jogador

Não quero ser guerreiro.

Mestre
Por quê?

Jogador
Não quero ser guerreiro poderoso. Coisa mais sem graça, banal, vulgar. Quero ser bardo.

Mestre
Tem certeza?

Jogador

Tenho.

Mestre

Hum, aiai!, tá bom. Que instrumento você quer? Já sabe que não pode começar com um piano, né? Seja razoável.

Jogador
Não se preocupe. Não quero nada, só papeis e tinta. Serei poeta.

Outros jogadores
(riem)

Mestre

Bem... você sabe que nesse mundo medieval as pessoas não valorizam muito a leitura, não sabe? Que quase ninguém é alfabetizado?

Jogador

Sei.

Mestre

Bom... então tá. Mas quando estiver só apanhando não venha dizer que não foi avisado.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Obragem

Obragem

Foi em junho do ano passado, 08/06/08 (é que guardo os ingressos), que vi pela primeira vez o trabalho do grupo de teatro Obragem (Olga Nenevê, Eduardo Giacomini, Fernando de Proença & Elenize Dezgeniski) na peça Passos, primeira boa peça pós-moderna que assisti.

Você entra e vê no palco aquele palco com buracos, uma parede inclinada e um casal apático. Mas você ainda se surpreende que, depois de vê-los presos em movimentos mecânicos cuidadosamente repetidos, eles começam a dançar um tango subindo pelas paredes... isso foi Passos.

Esse é um trecho de Passos, teatro gravado perde toda a graça, mas pra você dar uma espiadinha...

Mas o que vem a ser essa tal de pós-modernidade? Bem genericamente seria essa tendência da arte atual de romper barreiras entre os gêneros os estilos as regras de pontuação & ortografia as coreografias as expectativas etc. além de uma incessante busca pelo novo (parodiando algo já feito, claro). E o grupo Obragem faz isso muito bem. No Novelas Curitibanas eles deram uma oficina sobre seu processo de criação e contaram essas histórias, que eu menino ouvi com boa sede de aprender. A criação de uma peça do grupo envolve muito mais que um dramaturgo escrevendo e atores ensaiando. Há toda uma pesquisa do corpo, do movimento, do som.

Sempre trabalham com muita influência das artes visuais, principalmente pinturas, por isso não se surpreenda que às vezes eles parem ou se tornem mecânicos. O texto das peças é outra coisa interessante, dá até vontade de copiar para cá esse capítulo do livro As imagens, a cena teatral e as transformações do real, de autoria do grupo e que fala sobre seu processo de criação. Resumidamente, há uma preocupação de pesquisar e entender a voz das pessoas e sua relação com o que elas sentem e também o desejo de tornar essa relação sempre ambígua.

http://www.obragemteatroecia.com.br/

Agora voltando à atualidade. Sábado passado fui ver a atual peça deles (e sexta a oficina), O inventário de Nada Benjamim. Uma peça que dá vontade de embrulhar e trazer pra casa (vai assistir que você entende).


Nada Benjamim morreu, deixando dois filhos e uma viúva; deixando dois filhos perturbados e uma viúva louca; deixando uma caixa de fotos e algumas cartas; deixando a casa vazia; deixando um reencontro da família; deixando algumas lembranças; deixando fantasmas; deixando o luto. E os sobreviventes tem que entender essa situação, encarar a inconveniência de estar naquele lugar sob os (nossos) olhares. Esperto mesmo é o pássaro que voa...

A peça está em cartaz de quinta a domingo. De quinta a sábado, às 21h. Domingo às 19h. No Novelas Curitibanas (rua presidente Carlos Cavalcante, 1222) até dia 18 de outubro e a entrada é só uma lata de leite em pó. Se agende e vá dar uma olhada.