quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Odisseu

Volta para casa nas férias. É uma odisseia e por coincidência vim lendo Ulisses (ainda não terminei), foi tedioso e levou o dia inteiro. Aqui sem joguinhos de computador pelo menos escrevo mais, aliás, fiquem com o início de um texto que comecei hoje:

Odisseu

Ele saca seu Ulisses do bolso e os tupiniquins se assustam. Olha o tamanho daquilo, Que medo do que não conheço e de monstros mitológicos. E logo se afastam, mas depois se acostumam com sua presença, que eles se acostumam com tudo e pelo porto ser apertado naquele lugar tem que ficar bem pertinho, soprando em sua nuca.

A guerra que ele venceu durou anos e anos, milênios, mais precisamente cinco mil novecentos e oitenta e cinco anos e cinco meses, não se sabe mais, porque só se contaram até os meses. Ergueram-se muralhas, derrubaram-se muralhas, fundaram-se cidades estratégicas, destruíram-se cidades, inventaram-se aviões e mais máquinas de guerra, mas foram os tanques que asseguraram a dominação mundial e eliminação de tantos povos e culturas substituídas por grandes corporações que financiaram a guerra. Deu-se por satisfeito, gravou seu nome no Hall da fama do Civilization, desligou o computador e dirigiu-se ao porto.

É lá um solitário conquistador do mundo esperando o embarque como um qualquer que tenha dinheiro para linhas aéreas. Olha ao seu redor e entre os monstros não vê nenhuma mitologia ou licença poética. As mudas sereias não o encantam. Achava que as sereias emanariam de seus corpos melodias encantadoras que enfeitiçariam seus olhos e tardiamente provocariam dor de cabeça, mas nada. Elas não cantam, encantam ou fazem nada, além de não serem muito bonitas e terem voz de pato.

Após uma hora sob o agrupamento tupiniquim, chega sua hora, Senhores clientes, o avião 007 já liberou o embarque, por favor, aguardem de pé e em fila meia hora até mandarmos alguém abrir a porta, depois, alinhem-se em ordem crescente de números de assentos, para o corredor manter-se em estável bloqueio, clientes Gold e Diamante podem furar a fila, mas deverão respeitar a regra de parar o corredor, velhos e demais inúteis podem vir na sequência, além de mulheres bonitas, seguidas das tolas que não tomaram anticoncepcional ou abortaram quando deviam, se você não faz parte de nenhum dos citados, venha por último, enquanto esperam na fila pensem em um nome para seu grupo, escrevam num guardanapo, e ponham-se na nossa caixa de sugestões, por hora ficamos com a sugestão de um de nossos clientes Gold, que não quis se identificar, e chamamo-lhes de Resto, obrigado por voarem conosco e lembrem-se, somos quem dá mais vantagens, desde que você seja cliente Gold ou Diamante, esperamos de coração que você não morram em nossas mãos e voltem enquanto puderem pagar. Tudo isso com voz de pato, mas finalmente o embarque de todos, menos dos que desistiram sem avisar e são chamados por mais uma hora depois da última chamada.

Lá dentro os passageiros comprimem suas malas e colocam-nas no pequeno espaço reservado, inclusive Ele, que, depois de guardar sua mala, vê cobrirem-na com outras nove, apesar de ser o espaço para três malas. Terminada a parte mais confortável da jornada, ele se põe naquele compartimento para três pessoas, que tem metade do tamanho da parte das bagagens. Depois de instalado e ter outra pessoa alojada sobre ele, vê que seu último companheiro de viagem, não querendo ser companheiro de viagem de ninguém, tenta entrar no compartimento de bagagens, segundo ele mais confortável, Já viajei aqui, tomei uns comprimidos e foi bem legal, mas as sereias repelem a ideia e o atacam com spray de pimenta, maquininhas de dar choque e vibradores, que o piloto diz Devem ser desligados durante o procedimento de decolagem, quando se apagarem os alertas, contudo, os mesmos podem ser religados e todos poderão ter uma boa viagem, aproveitando esse momento de desligação, o passageiro corre até a porta de emergência, arranca-a e salta já de entre as nuvens, provocando um inconveniente alarme e o abiogênico surgimento das máscaras de gás, que fazem todos dormirem felizes.

Ele num bacanal grego cercado de loiras gostosas. Todos bebem vinho e se entendem sem falar a mesma língua, as línguas se encontram e se comunicam por si mesmas, como mudas, apenas por movimentos enrolados e nesse debate decidem que todos devem beber mais e tirar as roupas. Uma das três loiras tem pênis, enorme, mais de um metro. Estranho. As gregas de antigamente não tinham pênis. Todos voltam a beber. Decidem pôr Ele numa rede e jogarem-no para cima repetidas vezes, então lhe jogam vinho quente sobre o corpo.

Seu companheiro de compartimento de passageiros ereto, sobre ele. Os dois se olham e sacolejam, é a aterrissagem. O companheiro mijou-se. O mais demorado do desembarque são a descompactação e a extração dos passageiros dos compartimentos, para as quais as sereias dão dicas e mostram desenhos. E o cheiro de mijo.

Tudo terminado, hora de recomeçar, mas um pouco diferente. No banheiro tenta ficar apresentável, difícil. Enquanto tenta, um homem caolho, sem dentes e de palito oferece para engraxar suas botas, Não, obrigado, mas o homem entende só Obrigado e começa a engraxar o pé esquerdo, Pronto, agora faço o direito por 50 dólares, Não quero, Então são 50 dólares o esquerdo, que o senhor tem que pagar, Você é louco, não pedi nenhum serviço, Sabe ler não? e apontou para o teto, Se quiser engraxar os sapatos por 50 dólares, responda qualquer coisa, para recusar o negócio diga Faz fiando? Cancelamento inválido após iniciado o processo, caso recuse o engraxamento do segundo pé, terá de pagar apenas pelo já feito ou pagar mais 50 % do valor pelo serviço completo, Mas eu não imaginei que as regras e preços estivessem tão altos, tão pra cima, Não tenho culpa, ninguém tem culpa da ignorância alheia, diz no meu contrato pra só ensinar na hora do pagamento, pra explicar as tarifas, Seu monstro, pegue seu dinheiro, abre a carteira, pega uma nota e atira-a ao chão e assim poderá fugir, pois faz o engraxate se atirar atrás da nota e proporcionar-lhe a trilha sonora de fuga Seu infeliz, isso é uma nota de um.

Lá fora sente-se perdido, não apenas por nunca ter estado naquela ilha-contiente, mas também por estar desinformado, tendo pego apenas o final da fala patalar da sereia e numa língua que não é a sua, The book is on the table, mas por sua sorte, após uma hora de deslocamento, recomeça a fala Senhores passageiros, semana passada aconteceu de estar chovendo aqui por alguns minutos o que vai estar rendendo em um progressivo crescimento o atraso que em seu vôo vai estar sendo de dez horas e que, na verdade, deveria estar sendo de trinta e quatro horas, mas devido à chuva muitos passageiros de ontem vão estar a desistir de suas viagens e os senhores numa sorte abençoada vão poder estar embarcando nos lugares deles, estamos sabendo que os senhores, no decorrer dessas dez horas, vão estar vindo de um em um nos ficarem a estar perguntando, mostrando-se incrédulos e aliás é assim que vão dever estar sendo mesmo, pois em nossa empresa não vai mais estar havendo espaço para crentes, uma vez que eles continuariam a estar aborrecendo nossos clientes Gold, compostos de empresários satanistas, e todos vão dever estar sabendo, Deus morreu, assim falou Zaratrusta, palavra do Bigodudo e nós vamos estar sempre nos apoiando em suas palavras, tanto que as estamos mostrando gratuitamente, o livro está sobre a mesa, agora vamos repetir em portunhol e depois em inglês.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Remédios e álcool

E quando ela se foi
Ela que não é nada pra mim
Foi como se levasse uma parte
Sim, de mim
E nem era um fim
Só um momento e um pedaço
Um pedaço assim do coração
Sem querer fazer clichê
Mas foi onde surgiu a dor
Que nem é bem dor
Ele continua a pulsar
Nem o escuto
Nem escuto ninguém
Mas o sinto pulsar e o desconforto
Que não é dor
É desconforto
Porque foi como se fosse embora um pedaço
Talvez nem do coração
Quem sabe de um pulmão?
Algo da região
Do lado assim
E ficou desconfortável de pulsar
Que tudo desabou em meu peito
Formando o sufoco
Quando ela se foi.

13/12/09

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Semana de dois dias acadêmica

Sim, nossa semana terá dois dias. Se eu conseguir marcar um espaço, vou falar sobre sintaxe, mas parece que não vai ter nada de alunos. Não sei a programação. Honestamente, nosso curso está todo perdido no tempo e espaço. Confirmando isso, a divulgação veio começar só agora. Aliás, ainda nem disse. Amanhã e sexta. Sim, corra. A inscrição é 1 livro usado e 1 real.

Enquanto isso, há no nosso corredor um varal literário e nele meus minicontos. Eu mandei cerca de 10, hoje colocaram 3. Unanimamente o favorito das minhas colegas é Fadas Novas. Não, não vou mostrar aqui. Vai lá ver.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mais louco que o Superman coreano

Não sou um supereroi. Inclusive, com minha filosofia decadentista, estou muito mais para vilão. Mas não me considero mau; não me considero super; sei que não sou bom; no entanto, me vejo como um tipo de mártir (contei isso pra Camila um dia, mas ela não me levou a sério, não me levou).

O cara que era superman ilustra algo parecido com o que sinto. Um louco nadando contra a corrente, tentando fazer a coisa certa, enquanto todo mundo a um canto ri. Claro que não tenho a pretensão de salvar o mundo (e sou contra o save the planet). Minha luta é interior.

Será minha luta frescura? Eu deveria ser comunista? Na minha ideologia não. Não sei se vale a pena deixar de ser pobre batalhador pra ser rico e ter depressão crônica. Enquanto houver problemas no salão, não é saída abrir a porta pro povo se banquetear. Simplesmente todos morrem queimados, o que não passa de redução de diversidade.

Sou a favor da diversidade. De mortes, de classes, de cores, de lutas, de dores.

O Lee tenta ajudar as pessoas. Ele evita atropelamentos e crianças mortas em acidentes.

Eu me deito na sala de anatomia e me estudo com um espelho (às vezes te olho também). Meu objetivo é ver se vale a pena não se trair. Não sei se chegarei a algum resultado, mas, quando eu morrer, você pega meus arquivos e dá continuidade.

O fato é que somos loucos desempregados que vivem de favor e insistem numa causa perdida.

Acho que estou apaixonado.

O cinema (sul-)coreano é tão interessante, tão diferente do que passa na TV. Eles não são vendidos, é como produções independentes com verbas de grandes filmes. E não tem os mesmo clichês de sempre.

Talvez sejam cheios de clichês coreanos, mas se eu não conheço... viva a ignorância. Talvez a falta de apelo erótico seja censura, confesso não saber o nível de liberdade da mídia coreana, mas tanto faz se é benéfica e acredito que a Coréia pode ser moralmente conservadora, mas tendo liberdade na mídia. E é claro que vendo menos de 10 filmes, posso estar empolgado à toa, fadado a uma decepção, mas isso vale pra tudo e todos e não merece medo. Será que realmente não usam megaultragalãs, ou eu apenas não os vejo como galãs?

Pode ser uma paixonite momentânea. Mas sou muito dado a essas coisas.

Me leva pra Coréia?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

13

Sexta-feira 13... oh... nem vou dormir, tenho que terminar a revisão bibliográfica do meu TCC, mas ao anoitecer estarei livre pelo menos pra descansar, distrair. É difícil achar algo que me assuste depois disso, mas tenho visto uns filmes de terror bem interessantes.

Claro, americanas peitudas mortas a facadas não tem graça. E para fugir disso somente abandonando os filmes americanos. Psicopatas que foram maltratados pelos pais realmente não seriam originais nem com atores de verdade (por que os filmes de terror nunca tem atores realmente bons?).

Meu terror favorito é o asiático. Japoneses, sul-coreanos, principalmente, e, às vezes, algo de Hong Kong ou da Tailândia. Os japoneses tem os melhores efeitos especiais, mas eles se empolgam. No momento o que mais gosto é da sequência Whispering Corridors, que está no 5 (o que me falta assistir e separei pra essa data “especial”), todos se passam em escolas para garotas, na Coréia do Sul, com fantasmas. Gosto da história e de algumas personagens, dá até vontade de defender essas indefesas colegiais. Talvez possa se dizer algo sobre a ausência de presenças masculina, havendo apenas alguns professores, mas se isso evita enormemente o apelo sexual, de modo que tolero bem.

Talvez eu não tenha feito a melhor das propagandas, mas eu nem deveria estar aqui, não estou com neurônios extras pra gastar. Mas enfim, se as sul-coreanas não podem ser defendidas por mim, aproveite que você pode.

Venha essa noite. Entre voando pela janela sem fazer barulho e salte sobre mim. Te faço um drink, ponho o filme, ou sou seu travesseiro pelo resto da noite, ou pelo resto da vida, ou até você decidir levantar, desaparecer ao surgir do sol.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sarau

Teremos nosso halloween fora de época na PUC, o terceiro sarau idealizado pela Prof. Drª Cátia Toledo, com o apoio do Centro Acadêmico.

Espero que esse dê certo.

O primeiro foi bom, o segundo não deu por causa do vestibular de inverno. Esse terceiro veremos.
Estarei lá. Lerei o primeiro capítulo da novela de zumbis que estou escrevendo. Como é um capítulo curto, talvez eu leia algo mais, um conto, um poema. E você apareça lá e leve seu texto mais dark.

domingo, 1 de novembro de 2009

Palavras não

O policial grita: tudo que disser será usado contra você. & você se fecha & se cala, pois é idiota armar o adversário. Cala se te dão o troco errado. Cala se te passam na fila. Cala se não trazem a bebida. Cala se te chamam de calado. Mas um dia você se vê só &, ingênuo, fantasia que, nesse deserto, o vento se chama liberdade. Sussurra seu lamento, mas duma sombra salta a pessoa fardada &, desprezando gemidos, te algema... & diz: você sabia. Sim, você sabia. Há menos liberdade na solidão do que sonha tua vã filosofia. Agora, vaga pelo deserto, desiludido, & não sabe se é pior: ser escritor ou ser lido.



(Talvez seja prosa poética

Talvez desabafo

Talvez

Lixo literário)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poucas Palavras

Tenho milhares de ideias pra atualizar o blog, não tenho muita energia, determinação, incentivo. Talvez seja mesmo incentivo, de modo que o blog não é atualizado porque você não me motiva. Tá vendo? A culpa é sua.

Estou participando de uma oficina de minicontos na biblioteca pública (agora você entende o título, haha). Ela é ministrada pelo José Marins. Nesse link tem uns haicais originais (no sentido de fieis à forma primeira, sem título, na métrica e com a referencia à natureza), que não foram levados pra oficina, mas que servem pra ilustrar um pouco o trabalho dele. Eu gostei, e ele é bom de improviso.

Foi bom rever colegas da família Sandrini. Tenho o link da Vanderleia, que continua fazendo poemas interessantes, outro dia falo dela e indico algum texto de preferência minha. Também lá o Nery, que qualquer dia deve publicar algo, também o Rodrigo Araújo, que participa de uma coletânea de contos (que ainda não tenho, quando ler, comento). A Mayra não estava lá, mas ela ganhou um prêmio de publicação e quero deixar meus parabéns para ela. E por falar no pessoal, o Sandrini vai dar duas oficinas (que participarei se os horários permitirem), que infelizmente ainda não tem data.

Eu gosto de oficinas literárias. Claro, elas não são para aprender a escrever. Oficina é pra aperfeiçoar, discutir, trocar. E como a literatura anda tão fora de moda, qualquer espaço pra discussão, pra dialogar é importante. Principalmente para escritores. Que outro tipo de gente lê aqueles livros difíceis esteticamente trabalhados? É nosso espaço. É necessário.

Eu daria oficinas. Eu darei oficinas quando tiver currículo bastante para me chamarem. Seja pra iniciantes, seja pra escritores vagabundos alcoólatras que tem as tardes livres, pois eles também são gente. Antes de esquecer, a oficina acontece na Biblioteca Pública, das 14h às 17h e vai até o dia 29, aparece lá.

Para concluir talvez eu devesse pôr um microconto meu, mas melhor deixá-los inéditos um tempo, vai que faço um livro? Aproveito que concordo com o Marins que o primeiro e melhor livro de microncotos do país é Contos de amor rasgados, da Marina Colasanti, e termino com o conto que mais gosto do livro. Boa leitura.

Para sentir seu leve peso – Marina Colasanti

Guardava o rouxinol numa caixinha. Tudo o queria era andar com o rouxinol empoleirado no dedo. Mas se abrisse a caixinha, ah! certamente fugiria.

Então amorosamente cortou o dedo. E, através de uma mínima fresta, o enfiou na caixinha.

sábado, 17 de outubro de 2009

Metáfora RPG

Mestre
Agora que temos novos monstros, permito que façam guerreiros poderosos. E, como vocês são muito individualistas, nem adianta fazer um grupo variado pra um ajudar o outro, pois ninguém vai ajudar ninguém que eu sei. Então pensem bem seus pontos fortes e fracos pra não morrerem em dez minutos.

Jogador

Não quero ser guerreiro.

Mestre
Por quê?

Jogador
Não quero ser guerreiro poderoso. Coisa mais sem graça, banal, vulgar. Quero ser bardo.

Mestre
Tem certeza?

Jogador

Tenho.

Mestre

Hum, aiai!, tá bom. Que instrumento você quer? Já sabe que não pode começar com um piano, né? Seja razoável.

Jogador
Não se preocupe. Não quero nada, só papeis e tinta. Serei poeta.

Outros jogadores
(riem)

Mestre

Bem... você sabe que nesse mundo medieval as pessoas não valorizam muito a leitura, não sabe? Que quase ninguém é alfabetizado?

Jogador

Sei.

Mestre

Bom... então tá. Mas quando estiver só apanhando não venha dizer que não foi avisado.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Obragem

Obragem

Foi em junho do ano passado, 08/06/08 (é que guardo os ingressos), que vi pela primeira vez o trabalho do grupo de teatro Obragem (Olga Nenevê, Eduardo Giacomini, Fernando de Proença & Elenize Dezgeniski) na peça Passos, primeira boa peça pós-moderna que assisti.

Você entra e vê no palco aquele palco com buracos, uma parede inclinada e um casal apático. Mas você ainda se surpreende que, depois de vê-los presos em movimentos mecânicos cuidadosamente repetidos, eles começam a dançar um tango subindo pelas paredes... isso foi Passos.

Esse é um trecho de Passos, teatro gravado perde toda a graça, mas pra você dar uma espiadinha...

Mas o que vem a ser essa tal de pós-modernidade? Bem genericamente seria essa tendência da arte atual de romper barreiras entre os gêneros os estilos as regras de pontuação & ortografia as coreografias as expectativas etc. além de uma incessante busca pelo novo (parodiando algo já feito, claro). E o grupo Obragem faz isso muito bem. No Novelas Curitibanas eles deram uma oficina sobre seu processo de criação e contaram essas histórias, que eu menino ouvi com boa sede de aprender. A criação de uma peça do grupo envolve muito mais que um dramaturgo escrevendo e atores ensaiando. Há toda uma pesquisa do corpo, do movimento, do som.

Sempre trabalham com muita influência das artes visuais, principalmente pinturas, por isso não se surpreenda que às vezes eles parem ou se tornem mecânicos. O texto das peças é outra coisa interessante, dá até vontade de copiar para cá esse capítulo do livro As imagens, a cena teatral e as transformações do real, de autoria do grupo e que fala sobre seu processo de criação. Resumidamente, há uma preocupação de pesquisar e entender a voz das pessoas e sua relação com o que elas sentem e também o desejo de tornar essa relação sempre ambígua.

http://www.obragemteatroecia.com.br/

Agora voltando à atualidade. Sábado passado fui ver a atual peça deles (e sexta a oficina), O inventário de Nada Benjamim. Uma peça que dá vontade de embrulhar e trazer pra casa (vai assistir que você entende).


Nada Benjamim morreu, deixando dois filhos e uma viúva; deixando dois filhos perturbados e uma viúva louca; deixando uma caixa de fotos e algumas cartas; deixando a casa vazia; deixando um reencontro da família; deixando algumas lembranças; deixando fantasmas; deixando o luto. E os sobreviventes tem que entender essa situação, encarar a inconveniência de estar naquele lugar sob os (nossos) olhares. Esperto mesmo é o pássaro que voa...

A peça está em cartaz de quinta a domingo. De quinta a sábado, às 21h. Domingo às 19h. No Novelas Curitibanas (rua presidente Carlos Cavalcante, 1222) até dia 18 de outubro e a entrada é só uma lata de leite em pó. Se agende e vá dar uma olhada.