quarta-feira, 21 de abril de 2010

Literaturas

Tirando atrasos. Hoje volto a atualizar o blog e decido finalmente ler o Rascunho de abril, com bastante espaço para o debate “alta literatura” X “literatura de gênero”. Isso já dá conflito na definição/separação desses dois grupos.

Uma coisa engraça e preocupante que me vem à mente nesse tema é a recorrente fala do Paulo Coelho, mais ou menos isto: “o contato com o Raul me salvou de um caminho sem volta, de escrever cada vez mais difícil”. Engraçado porque nunca li nada nem um pouco difícil do PC. Mas preocupante porque eu acho que estou me enveredando pela trilha citada.

O experimentalismo tem se incorporado nos meus escritos recentes e, se não é uma produção vasta, é porque escrevo pouco mesmo. Em janeiro eu li o início de um conto (que estava escrevendo) pra um amigo e ele disse que era intelectual demais. Outro dia uma colega disse que fiz um poema que não dá vontade de ler até o fim (só porque envolve mais de 5 línguas?).

Não tenho intenção de ser ilegível, mas também não quero o messias das massas (cacofonia proposital). Aqui entra a dicotomia de Maiakovski e Pound tanto em teoria, quanto em produção literária.

O poeta russo assumidamente bolchevista (em favor das maiorias, do povo) e o poeta americano de extrema direita (atuante a favor do fascismo). O primeiro quer um verso vivo que o povo possa cantar na rua; o segundo diz que enquanto não se faz nada de genial, o que o artista pode fazer é experimentar coisas novas em favor dos que podem usá-lo (no bom sentido) como atalho e fonte.

Se tudo é política, quero me proclamar de centro com tendência direitista. Quero ser a Suíça.

A turma que eu leio e admiro em sua maioria é mesmo do lado canônico. Extremos: Joyce, Dostoievski, Pound, Eliot. Mas também gosto de autores acessíveis e (que deveriam ser) populares, como Drummond, Pessoa, Poe.

Tento escrever de tudo e de todas as formas, não esperando agradar a todos, mas por, confesso, desejo de não ficar preso a nada. Os poemas do blog são absolutamente simplistas (a meu ver, pelo menos), enquanto que a esquete é experimental e de leitura elitista. Não entenda isso na questão do gênero, eu tenho poemas difíceis e, em contrapartida, tenho começada (nunca tenho ânimo e concentração pra terminar) uma farsa (uma comédia fácil de teatro).

Pelo que se fala, poderíamos encontrar na literatura mundial os opostos numa luta como Finnegans Wake contra Crepúsculo. Não li nenhum (espero viver para ler o primeiro). Acho mais importante existir o primeiro, pelo raciocínio: havendo uma linha do meio, há as variações de elaboração para ambos os lados, sendo os leitores de um pós-doutores em literatura e artistas extremamente intelectuais e os de outro gente que assiste novela torcendo pela mocinha; acho mais importante que ampliem os limites do primeiro grupo, expandindo os limites do texto e da língua, do que inventarem algo ainda mais linear e comercial que Crepúsculo. Se o Joyce não tivesse existido, muitos ainda se aventurariam na tentativa de escrever algo como FW (e muitos tentam). Se não existisse Crepúsculo, não faria diferença, porque há milhares iguais.

Por hora ainda dizem que sou acessível a qualquer um (não em tudo, é claro), mas eu terei textos (se viver o bastante) que poucos vão conseguir ler. Mas também estejam avisados se eu escrever roteiros de jogos de computador ou séries de RPG (o que muito pretendo fazer).

Minha postura é difícil, eu sei. Academicamente eu estudo o Santiago Nazarian (escritor pop) usando Bakhtin (estudioso russo) e saio falando que Alencar e Paulo Coelho são a mesma coisa, porteiros.

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