Foi em junho do ano passado, 08/06/08 (é que guardo os ingressos), que vi pela primeira vez o trabalho do grupo de teatro Obragem (Olga Nenevê, Eduardo Giacomini, Fernando de Proença & Elenize Dezgeniski) na peça Passos, primeira boa peça pós-moderna que assisti.
Você entra e vê no palco aquele palco com buracos, uma parede inclinada e um casal apático. Mas você ainda se surpreende que, depois de vê-los presos em movimentos mecânicos cuidadosamente repetidos, eles começam a dançar um tango subindo pelas paredes... isso foi Passos.
Esse é um trecho de Passos, teatro gravado perde toda a graça, mas pra você dar uma espiadinha...
Mas o que vem a ser essa tal de pós-modernidade? Bem genericamente seria essa tendência da arte atual de romper barreiras entre os gêneros os estilos as regras de pontuação & ortografia as coreografias as expectativas etc. além de uma incessante busca pelo novo (parodiando algo já feito, claro). E o grupo Obragem faz isso muito bem. No Novelas Curitibanas eles deram uma oficina sobre seu processo de criação e contaram essas histórias, que eu menino ouvi com boa sede de aprender. A criação de uma peça do grupo envolve muito mais que um dramaturgo escrevendo e atores ensaiando. Há toda uma pesquisa do corpo, do movimento, do som.
Sempre trabalham com muita influência das artes visuais, principalmente pinturas, por isso não se surpreenda que às vezes eles parem ou se tornem mecânicos. O texto das peças é outra coisa interessante, dá até vontade de copiar para cá esse capítulo do livro As imagens, a cena teatral e as transformações do real, de autoria do grupo e que fala sobre seu processo de criação. Resumidamente, há uma preocupação de pesquisar e entender a voz das pessoas e sua relação com o que elas sentem e também o desejo de tornar essa relação sempre ambígua.
http://www.obragemteatroecia.com.br/
Agora voltando à atualidade. Sábado passado fui ver a atual peça deles (e sexta a oficina), O inventário de Nada Benjamim. Uma peça que dá vontade de embrulhar e trazer pra casa (vai assistir que você entende).
Nada Benjamim morreu, deixando dois filhos e uma viúva; deixando dois filhos perturbados e uma viúva louca; deixando uma caixa de fotos e algumas cartas; deixando a casa vazia; deixando um reencontro da família; deixando algumas lembranças; deixando fantasmas; deixando o luto. E os sobreviventes tem que entender essa situação, encarar a inconveniência de estar naquele lugar sob os (nossos) olhares. Esperto mesmo é o pássaro que voa...
A peça está em cartaz de quinta a domingo. De quinta a sábado, às 21h. Domingo às 19h. No Novelas Curitibanas (rua presidente Carlos Cavalcante, 1222) até dia 18 de outubro e a entrada é só uma lata de leite em pó. Se agende e vá dar uma olhada.

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